EM BUSCA DO PRÓPRIO EU

Aylla

 

            O mundo vive uma frenética busca, meio consciente e meio inconsciente. Tudo que se ouve falar é “não tenho tempo, deixa para amanhã, estou atrasado, tempo é dinheiro, etc.” O ritmo está acelerado demais, o mundo está exausto, deprimido, confuso, inseguro e vazio, mas por que as pessoas estão se sentindo cada vez mais vazias? O que está acontecendo com a humanidade? Muito simples: a humanidade está em busca, a busca constante de controle para sua compulsão, sua ansiedade, alívio para suas dores, compreensão para seus enigmas, desafetos, desamores, sua infelicidade, a causa da maldade, o porquê de não ser aceito, amado, perdoado, porque nada dá certo, porque não consegue emagrecer, porque tudo só acontece com ele, etc.

            Bom, essa é só a primeira parcela da busca, que eu chamo de vitimismo. Ainda tem a segunda parcela, que chamarei de egoísmo.  Vamos tratar dessa primeira parcela. Na verdade ela é só um resumo, pois muito ainda poderia ser acrescentado, mas já está bom para começar. Ao invés de buscar respostas para tais questões, por que não tomamos uma atitude de filhos da luz que somos e decretamos nós mesmos a solução, afinal grande parte desses problemas acima citados é de competência sua resolver. Veja bem, ao invés de buscar nos outros uma resposta para sua infelicidade dê a você mesmo um motivo para ser feliz, afinal nenhum ser vivo é responsável pela sua felicidade. Isso depende tão somente de você. Assim sendo, como alguém outro pode dizer qual o motivo da tua infelicidade? Ser feliz ou infeliz é uma opção sua e de mais ninguém. Você é que decreta que algum fator externo te deixa infeliz. Se deixar de valorizá-lo não terá mais efeito ruim sobre você. Portanto a causa da tua infelicidade é você mesmo, até onde você quiser.

            Isso vale para o resto também. Ser amado, perdoado ou aceito também é algo que só diz respeito à sua pessoa. Você deve aprender a se amar sem narcisismo, se aceitar sem cegueira, se perdoar sem se tornar hipócrita ou tirano. Pare de engolir sapos e boa parte de suas dores irão desaparecer. Aprenda a se disciplinar, controle sua ansiedade, mas faça isso por você em primeiro plano. Assim o regime não será interrompido se alguém te magoar ou decepcionar. Torne-se responsável por si mesmo.

            Geralmente desejamos melhorar para sermos bem vistos, aceitos ou agradar determinada pessoa. Essa é a visão do cego, que mesmo tendo olhos nunca se viu de verdade, o que é pior, pois só se conhece pelas lentes alheias. Esse ser não tem um conceito próprio de si mesmo e, para piorar, sobrevive do conceito criado como uma quimera por familiares, amigos, a sociedade, etc. No fundo não se conhece, não sabe quem realmente é. Por isso na maioria das vezes torna-se inseguro, deprimido, sem muita opinião própria, uma marionete compulsiva e ansiosa.

            Pare de se ver como vítima de tudo e de todos. Pare de permitir tanta autocompaixão. Aprenda a abrir a porta do seu zoológico particular e deixe a bicharada sair, afinal você é um ser humano e não um zoológico, que vai guardando todos os bichos que a vida vai fazendo você engolir. Não estou dizendo com isso que você tenha que sair por aí revidando. Estou apenas dizendo que o homem superior não escuta o que não quer. Se não escuta não pensa a respeito. Se não pensa não sofre. Sei que é uma atitude difícil, muito difícil, mas quem disse que seria fácil a evolução? Lembre-se que a ignorância é o ato de não saber, ou seja, o ignorante não tem a mínima noção do que fala ou faz. Se você agir da mesma forma no mínimo vai prolongar um diálogo entre um mudo e um surdo. É assim mesmo que acontece quando dois ignorantes se juntam para brigar. Um fala e o outro não ouve e ambos terminam ficando cegos de raiva. A melhor tática é “ignorar sem ignorância”. Isso é muito fácil, simples e indolor. Como eu disse anteriormente, ignorar é o ato de não saber, de desconhecer determinado assunto, pessoa, etc. Então, quando se vê diante de uma situação onde você acredita que vai perder a cabeça, lembre-se de “ignorar sem ignorância”. Mas lembre-se que “ignorar sem ignorância” é simplesmente ignorar com leveza e calma, sem perder o controle, exatamente como uma pedra firme e silenciosa. Não carregue nenhum tipo de ressentimento por mais de 20 minutos, pois ele poderá destruir a sua noite. Se ele destruir a sua noite vai acabar com a sua semana. Se acabar com a sua semana pode se tornar inesquecível. Se se tornar inesquecível pode virar uma doença. A cura é não carregar nenhuma mágoa nunca, afinal até mesmo o que é bom passa. Para que guardar algo ruim, que nos faz mal e não tem utilidade alguma? É como guardar sacos de batatas podres ou, na pior das hipóteses, um motivo inútil para reencarnar.

É como a palavra “paixão” e suas famosas rosas vermelhas. Ah, seres humanos leigos! Adoram se iludir, vivem em busca de uma paixão, suspiram pelos cantos apaixonados. Será que vocês sabem o significado da palavra “paixão” para suspirarem tanto por ela? Se sabem ou não, vou destruir mais essa doce, porém verdadeiramente amarga ilusão. Paixão vem do latim e seu significado é “dor, sofrimento, penalidade, punição”. Por isso as rosas vermelhas simbolizam o sangue e o mais baixo dos chakras, o básico, que atua sobre a energia sexual, a paixão, a atração pelo vermelho, o fogo de palha passageiro, a punição. Acreditem: grande parte da humanidade confunde paixão com amor. Não sabe que paixão é passageira e amor é duradouro. Amor, oh tão incompreendido amor. Vamos falar dele mais adiante.

Bem, creio que aqui deixamos de ser vítimas e voltamos a ter o controle das nossas próprias vidas.

Agora vamos falar da segunda parcela dessa busca, a busca egoísta. Essa é a busca cega pelos valores ilusórios das vida. Vamos ver qual é a sensação do momento (obs.: vamos voltar logo, logo a essa palavra “momento”) ou moda. Não estou falando apenas de roupa de marca, perfumes de tal grife, sapatos feitos por fulano ou a melhor tecnologia em forma de celular. Estou me referindo ao conceito que o mundo e a mídia têm de moda e não o conceito que cada indivíduo deveria ter de sua própria vida, sua aparência e seus valores sem que a sociedade tomasse partido disso. Vamos falar de um assunto meio chato, porém fatal para alguns de nossos adolescentes e crianças. Quando aparece determinado acessório no mundo jovem, quase que obrigatoriamente todos tem que usar. Assim foi com uma determinada pulseira colorida, em que se determinou que cada cor determinava um nível de liberdade sexual, variando de abraço, beijo até o ato sexual. Por fim, após causar vários abusos e traumas o acessório foi removido do mercado. Mas o que leva uma adolescente de 13, 14 anos a usar esse acessório sabendo exatamente o seu significado ou risco que está correndo? O mesmo motivo que leva um jovem a comprar um tênis absurdamente caro e sair na noite para expor o acessório. Ambos querem ser vistos com tais acessórios pelas suas “tribos”, os amigos, e ser chamado de “maneiro”. O fato de ser aceito e chamar a atenção tem tanto valor para esses seres que termina por fazê-los esquecer o bom senso e do risco que estão correndo. O garoto pode não perder o seu tênis caro hoje, mas os “amigos” conquistados com o acessório podem sair da sua vida a qualquer momento. A jovem pode dizer “eu gosto dessa cor, combina com a minha roupa”. Na verdade qualquer outro acessório combinaria com a sua roupa. Ela quer apenas desafiar o perigo e ser beijada por um determinado garoto bonitão da escola, mas quem a beija e a violenta é aquele que termina por lhe deixar o trauma pela sua ação inconseqüente. Moda sempre será o assunto do momento e, como todo momento, passa rápido, mas pode deixar marcas sem grife ou glamour pelo resto de nossas vidas. Pensem nisso.

A vaidade nada mais é do que a falta de aceitação da nossa forma física tal qual ela se apresenta ao mundo. Parece que não gostamos do que o Grande Pai criou com seu divino amor e vivemos tentando nos mudar por fora, como se isso fosse realmente mudar nossas vidas. Não, não muda se a mudança não começar no interior primeiro. Essa falta de aceitação do que somos e como somos é só mais uma moda do momento.

A busca egoísta é como passar a vida inteira lendo livros que não tem proveito algum, é ler uma biblioteca sem valor. Mas o que seria ler uma biblioteca sem valor? Um livro tem proveito quando te ensina algo. Um livro tem valor quando você aprende algo que você também pode ensinar a alguém. Um livro é precioso quando te ensina algo, quando você ensina alguém e quando esse alguém ensina a muitos outros, ou seja, o livro que primeiro te liberta e depois te ajuda a libertar outros é de fato uma leitura útil. Caso contrário é livro passa-tempo para relaxamento mental ou satisfação pessoal. Eu já vi muitos livros na moda que não valiam a própria impressão, mas tudo bem, estamos falando de momento e tudo vira moda passageira em pouco tempo. Aprendi que a moda passa e a verdade sempre permanece. Não são acessórios, tecnologias ou um visual descolado, tresloucado que vai fazer um ser humano ser amado ou ter melhores amigos.

Primeiro: quem tem amigos obviamente tem inimigos. Nesse mundo dual é assim. Se você disser “Eu tenho irmãos”, legal, você não tem antônimo. Não existe ex-pai, ex-mãe, ex-irmão, mas existe ex-amigo e inimigo. Olha aí o antônimo. Somos todos “sócios” dessa “sociedade” humana ou somos simplesmente irmãos? Se olharmos uns aos outros como irmãos ou uma grande família fica muito mais fácil aceitar o outro como ele é, mesmo que muitas vezes nossas famílias não sejam o melhor exemplo. O que estou querendo dizer é que devemos englobar as coisas num todo com uma só raiz. Exemplo: veja o arco-íris e suas cores do vermelho ao violeta. O vermelho simboliza a força bruta, primária, que ignora o saber. O violeta é o mais elevado nível, a cor que transforma elevando a unidade do Todo, porém ambas e na verdade todas as sete cores estão juntas no arco-íris, pois não podem ser separadas. Da mesma forma  o ser humano deve ser reconhecido não pelo nível de sua humanidade, mas pelo que ele é dentro de si pela invisível fagulha de luz de que todos nós somos portadores. Seja ignorante ou sábio, todos são filhos do Uno e para a sua Unidade voltarão. O ignorante está salvo pelo simples fato de ignorar = desconhecer (perdoa Pai, pois eles não sabem o que fazem). O sábio já está salvo pelo seu próprio saber. O mais importante de tudo isso é que todos vão deixar de representar uma cor e descobrir que não passam de um simples reflexo, afinal o que realmente existe é o diamante transparente, a energia que dá a luz, a vida a tudo.

Não importa o quanto a moda dite suas regras. Ainda assim terá sido um mortal que a criou. O valor das coisas perecíveis e passageiras quem dá somos nós e a sociedade, pois originalmente tudo que se acaba não tem valor, a não ser o valor momentâneo. Nós somos imortais e tudo isso é um enorme contra-senso. Cadê a nossa educação integral, que está tão clara no ato de uma mulher dar a luz. Já prestaram atenção nessas palavras: “dar a luz”? Uma mulher grávida é uma mulher vestida de Sol, luz. Quando nasce uma criança a luz se faz homem (e o Verbo se fez). Nós somos luz, essa é a nossa face original e nada pode mudar isso. Até mesmo a ciência afirma que somos uma grande massa feita de elétrons, energia pura (anatomia =ser solar), homens-sóis. Ficou claro o significado de “dar a luz”? Ou terei que desenhar? Brincadeira à parte, vamos parar de buscar e encontrar.

Nós não temos propósitos para estarmos aqui, a não ser o amor. Mas eu não estou falando simplesmente da palavra ‘amor”. Estou falando do Amor que nos criou, incondicional, sem motivo nem razão, o inconcebível para muitos seres humanos. E que amor é esse? É aquele amor de que Madre Tereza falava: “Se me amares não me ame pela minha beleza, ela se acaba. Não me ame por admiração, um dia essa passa também. Ame-me simplesmente por amor e só”. Ame-me quando eu menos merecer, pois é quando eu mais preciso. Assim é o amor sem condição, o amor sem acessórios, pois é ele que veste; o amor sem beleza, pois é ele que torna belo; o amor sem cor, pois é ele que brilha; o amor sem dinheiro, pois é ele o valor; o amor sem sócio, pois é dele a irmandade; o amor sem pai ou mãe, pois é dele a criação; o amor sem idade, pois é dele a eternidade; o amor além da vida, pois é ele a imortalidade; o amor além dos preconceitos, pois é ele o único conceito; o amor que não vê dualidade, pois ele é a Unidade.

A busca é uma viagem por dentro de si mesmo e quando sua viagem terminar começará a viagem da prática por fora. Seu princípio é: Nunca pense que alguém pode influenciar você negativamente. Adiante-se e influencie sempre os outros beneficamente. O mal do outro não pode ser mais forte que o seu bem. Cuidado sempre com a palavra “auto-obsessão”. Às vezes o seu pior inimigo é você mesmo. Pare para ouvir a voz que vem de dentro. Ela é sua maior defesa e melhor conselheira. E o mais importante: só existem duas portas por onde o mal pode entrar em sua vida, sua mente e seu coração. Só você tem essas chaves em mãos. Para ser feliz não é preciso emoções externas. Você é filho da luz. O que mais você precisa?

            Jesus disse: “Busca e acharás”. Mas lembre-se: quem busca ainda está na dualidade, quem já se achou está na Unidade. Para isso basta criar consciência plena. Melhor que buscar fora de si (o que é desgastante) e dentro de si (silenciando) é permitir-se ser conscientizado (deixar ABBA ou Pai-Mãe falar com você).  

            Lembre-se da frase escrita no Oráculo de Delfos na Grécia Antiga: “Conhece-te a ti mesmo” e outra de Jesus: “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”.

 

                                                                                                                              Aylla