O PODER DO SILÊNCIO

 

                                                                                                                                 Axel

 

O que nos incomoda no barulho? A altura ou tipo de som, música que não gostamos, latidos, barulho de máquinas, festas barulhentas, gritaria, choro, etc.

E por que hoje em dia o silêncio incomoda muito mais? Porque nos acostumamos ao barulho, mas não ao silêncio. O barulho dá a sensação de preenchimento. O silêncio dá a sensação de vazio e por isso dá medo, apavora. A ausência de barulhos é interpretado como algo que esteja faltando na nossa vida, mas não reclamamos quando falta silêncio. Na verdade deveríamos comemorar a falta de barulho.

“Há um estranho poder numa certa forma de silêncio” disse Ralph Waldo Emerson, reconhecendo que o silêncio é um fenômeno difícil de classificar. Na época atual a linguagem natural, modo de expressão e tipo de eloqüência (capacidade de se expressar bem) que é o silêncio – nem todo silêncio, evidentemente – goza de pouco prestígio, e nada indica que venha a ser redescoberto nos próximos anos. Na cultura em que vivemos, espalhada pelos meios de comunicação nos cantos do mundo, a palavra é tudo, a quantidade é que importa e o barulho é uma forma de proteção. Toda abstenção atualmente é interpretada como sinal de fraqueza, dubiedade e insegurança. Este, no entanto, é um conceito que vale à pena reexaminar.

A “arte do silêncio” foi substituída pela comunicação quantitativa (não qualitativa). As virtudes de um governo, de uma pessoa, de um produto e de uma idéia são apregoadas em voz alta, de maneira clara e repetitiva. A clareza é exigida com moderação, mas é indispensável para fixar a mensagem que se deseja imprimir nas mentes e vontades. Uma mentira é repetida milhares de vezes, até que se torne verdade, como descobriram os gênios da propaganda. Somos robôs – ainda sofisticados, é verdade, mas esse inconveniente pode ser removido aos poucos -, robôs que não se dão conta de sua robotização porque perderam toda visão de si mesmos. Se um computador perfeitíssimo não é programado para ter consciência de que é um computador pode surgir nele a idéia de que é infinitamente criativo, talvez um deus em potencial. Os computadores não conhecem a “arte do silêncio”, nem podem ser programados para isso. A mente ocidental, pragmática e voltada para a ação – no sentido de movimento, significativo ou não – é superficial como um computador, e superficial aqui quer dizer desprovido de compreensão profunda e criativa. Queremos sempre resultados, não sabemos viver sem eles. Precisamos das palavras em abundância e a elas acrescentamos gestos, imagens e expressões. Guiados pelos desejos e fugindo da dor, usamos sons, símbolos, sinais, ruídos e nos empenhamos na sua repetição para termos certeza de que conseguiremos o que desejamos e escaparemos do que tememos. Um poeta inglês, Martin Tupper, escreveu um dia que “o silêncio bem dosado é mil vezes mais eloqüente do que todas as palavras, e guarda em si uma riqueza que as palavras todas não saberiam descrever.” Essa dificuldade em precisar é que nos torna inseguros a respeito do silêncio, que para a maioria dos contemporâneos é apenas a ausência de alguma coisa, e não uma presença viva.

O significado do silêncio é descoberto através da compreensão do ruído, da verbosidade e do barulho fútil e constante que se multiplica ao nosso lado. Essa compreensão não é verbal, como é bem fácil deduzir. A atração pelo ruído (música, conversas, discursos, festas, torcida, etc.) governa a vida humana em toda parte e rege o dia-a-dia dos homens. Fazemos do ruído um apetrecho, uma barreira protetora contra a solidão, o medo da morte, o sofrimento psicológico. Ligamos o rádio e a televisão em busca de companhia. Iniciamos uma conversa (apesar do nosso real desinteresse pelos outros) para não estarmos sozinhos. Falamos, cantamos, murmuramos e banimos para longe essa coisa estranha e desconhecida que é o silêncio, que às vezes nos leva a dar um testemunho de nós mesmos que nos desagrada muito, ou que pensamos que nos desagrada e que sem dúvida alguma nos assusta sempre.  

De acordo com as regras de boa convivência humana permanecer em silêncio em determinadas circunstâncias é manifestação de pouco caso e hostilidade. As convenções recomendam um moderado zumbido verbal numa sala onde não devem faltar pequenos confortos e onde o nada não deve ser introduzido com a sua assustadora grandeza. Toda pressão que sofremos culturalmente é no sentido de ser evitado o pensamento autônomo, criativo e independente. O silêncio é um fator que leva à criatividade e por isso mesmo põe em perigo os nossos (falsos) valores: a certeza das coisas, a ilusão da permanência, uma auto-imagem consoladora. É de mau gosto colocar em cheque esses dispositivos de segurança.

“Na quietude e na confiança estão a sua força” já ensinava Isaías, com o qual concordaram inúmeros filósofos, pensadores, monges e simples observadores da vida. É preciso descobrir o potencial que existe num momento ou numa hora de silêncio. Por isso a meditação é tão útil pra quem a pratica. Meditar é utilizar o silêncio para a sua busca interior. O silêncio nos leva a descobertas como a do nosso potencial interior. Isso é poder! Um poder que os detentores do poder (político, religioso, industrial, medicinal e científico) temem. Para esse poder latente não vir à tona é pregado o benefício do barulho. A massa popular, que tem preguiça de pensar, aceita tudo como se fosse bom e acaba perdendo totalmente o rumo que leva à evolução espiritual, que deveria ter sido alcançada há milênios atrás. Certo está o ditado popular que diz: “O silêncio é de ouro, a palavra é de prata.” Um provérbio chinês diz: “Quando falares procure fazer com que tuas palavras sejam melhores que o silêncio.” 

Não é a fala alta ou o canto que vai exorcisar os demônios que só existem na nossa imaginação culpada e perturbada.

Por que temos medo de enfrentar a nós mesmos? É o medo de descobrirmos respostas que não gostamos ou não queremos ouvir? Medo de enfrentar a verdade, a nossa verdade, por não ter coragem ou vontade de mudar? Medo de fazer uma auto-análise e uma reforma íntima?

Eu pergunto: Por que fugir? Essa busca interior só vai nos ajudar a evoluir, e não é isso que todos nós queremos? A gente diz que sim, mas fica adiando o momento. Então está na hora de provar pra Deus e pra nós mesmos que esta afirmação é verdadeira. Vamos enfrentar o SILÊNCIO e descobrir a luz, o amor, a fé escondidos dentro de nós. O silêncio nos permite descobrir quem nós somos, o que queremos, quais são nossos defeitos e nossas qualidades e como melhorar tudo isso.

Devemos perder o medo de nos enfrentar, questionar e descobrir nossa essência, nosso Eu Superior, o nosso Espírito, para que Ele possa nos guiar melhor. Vamos parar de viver superficialmente e nos enganarmos a nós mesmos.

Aproveite o silêncio e se dê a oportunidade de conhecê-lo. Sempre que houver silêncio à sua volta, perceba-o. Preste atenção nele. Ouvir o silêncio desperta a dimensão da calma que já existe em você, porque só através da calma que você pode perceber o silêncio. Note que, quando percebe o silêncio à sua volta, você não está pensando. Olhe para uma árvore, uma flor ou uma planta. Deixe sua atenção repousar nelas, sem analisar o que está vendo e ouvindo, sem dar rótulos e nomes. Apenas olhe e capte a essência da Unidade. Sentir a Unidade com todas as coisas é amor. Deixe que a natureza lhe ensine o que é calma. Quando você olha para uma árvore, uma floresta ou um jardim e percebe a calma da árvore ou do lugar, você também se acalma. Você se conecta à natureza num nível muito profundo. Sempre que aceitar o momento como ele é você experimenta a calma e fica em paz.

Quando você presta atenção nos intervalos (entre dois pensamentos, entre as palavras, as notas musicais ou entre a inspiração e a expiração) a percepção de “alguma coisa” se torna apenas percepção, sem pensamento. Dentro de você surge a pura consciência desprovida de qualquer forma. Você deixa então de identificar-se com a forma. A verdadeira inteligência atua silenciosamente. A calma é o lugar onde a criatividade e a solução dos problemas são encontradas. A calma e o silêncio são a própria inteligência. Deixe que a calma interior oriente suas palavras e ações.

Prestando atenção (observando) alguma coisa natural, sem a intervenção humana, você sai da prisão do pensamento. Prestar atenção numa pedra, numa árvore, num animal não é pensar nele, mas simplesmente percebê-lo, tomar conhecimento dele. Então algo da essência desse elemento da natureza se transmite a você. Veja como cada planta e animal são completos em si mesmos, ao contrário dos seres humanos que, por pensarem, se dividem e geram conflitos. Contemplar a natureza pode libertar você desse “eu” autocentrado, o ego, que é o grande causador de problemas. Você precisa da natureza como mestre para ajudá-lo(a) a religar-se ao Pai. Quando os seres humanos conquistam a calma, eles vão além do pensamento.  Na calma e no silêncio há uma dimensão adicional de conhecimento e de percepção que fica além do pensamento.    

Nos primórdios da humanidade as pessoas se comunicavam pela mente e eram mais observadoras. Sabiam o que o outro sentia, pensava ou estava passando sem abrir a boca. A telepatia era de uso comum. Depois que inventaram a fala, a língua e a escrita criou-se mais dificuldades do que facilidades. As línguas eram diferentes, gerando dificuldades de interpretação e tradução, além de ter que aprender a gramática e as palavras de cada língua. Ao transferir as palavras para o papel o ser humano passou a responsabilidade de preservar o conhecimento para os livros. Ele deixou de ser o guardião da sabedoria como acontecia nos povos de tradição oral. O intelecto deixou de ser exigido e as pessoas se tornaram preguiçosas. Se a pessoa esquece e o livro é queimado ou destruído aquele conhecimento é perdido para sempre. No mundo espiritual não há livros e a língua é universal e única. Qualquer um se comunica telepaticamente e é entendido. Devemos imitar o exemplo que vem de cima.

Uma observação: nem todo silêncio é bom. O silêncio do medo, da vergonha e da culpa só nos prejudicam, mas o silêncio da busca da verdade, este sim, nos leva a algum lugar. Só no silêncio temos condições de analisar tudo que nos acontece diariamente e descobrir se tem algo errado ou não. É preciso silenciar para notar nossas falhas no início para que dê tempo de corrigi-las e não negá-las.

“Mais vale um silêncio certo do que uma palavra errada. Em muitos momentos da vida o silêncio é a resposta mais sábia que podemos dar a alguém. Hoje, neste tempo de palavras muitas, queiramos a beleza dos silêncios poucos.” (Padre Fábio de Melo)    

“Precisamos encontrar Deus e não podemos fazê-lo com barulho e desassossego. Deus é amigo do silêncio. Veja como a natureza – árvores, flores, grama – cresce no silêncio; veja as estrelas, a Lua e o Sol como se movem em silêncio...Precisamos de silêncio para sermos capazes de tocar almas.” (Madre Teresa de Calcutá)

O que você descobre e nota quando está em silêncio?

Com o silêncio você aprende a ouvir os sons interiores da alma, a calar-se nas discussões e assim evitar tragédias e desafetos.

Aprende com o silêncio a paciência, a obediência raciocinada e a resignação.

Aprende a aceitar alguns fatos que você provocou, a ser humilde, deixando o orgulho gritar lá fora, a evitar reclamações vazias e sem sentido.

Aprende com o silêncio a reparar nas coisas mais simples, a valorizar o que é belo, ouvir o que faz algum sentido.

Aprende que a solidão não é o pior castigo, existem companhias bem piores...

Aprende com o silêncio que a vida é boa, que só precisamos olhar para o lado certo, ouvir a música certa, ler o livro certo. 

Aprende que tudo tem um ciclo, como as marés que vão e voltam, os pássaros que migram e voltam ao mesmo lugar, a Terra que dá uma volta completa sobre o seu eixo e em torno do Sol. Complete a sua tarefa!

Aprende a respeitar a vida, valorizar o seu dia, enxergar em você as qualidades que possui, equilibrar os defeitos que você tem e sabe que precisa corrigir e enxergar aqueles que você ainda não descobriu.

Aprende a relaxar, mesmo no pior trânsito, na maior das cobranças, na briga mais acalorada, nas discussões entre familiares.

Aprende com o silêncio a respeitar o seu Eu, a valorizar o ser humano que você é, a respeitar o templo que é o seu corpo e o santuário que é a sua vida.

Aprende que gritar não trás respeito, que ouvir ainda é melhor do que falar demais...

Na natureza tudo acontece com poder e silêncio, com um silêncio poderoso.

Às vezes o silêncio é confundido com fraqueza, apatia, medo ou indiferença. Pensa-se que a pessoa portadora dessa virtude está impedida de reclamar seus direitos e deve tolerar com passividade todos os abusos. Acredita-se que o silêncio não combina com poder, pois este tem-se confundido com prepotência e violência. Só no silêncio podemos deixar a razão e, mais ainda, o coração falar, evitando a manifestação do orgulho, do egoísmo, da cólera e da ignorância. 

O Sol nasce e se põe em profunda quietude, move gigantescos sistemas planetários, mas penetra suavemente pela vidraça de uma janela sem a quebrar, acaricia as pétalas de uma rosa sem feri-la e beija a face de uma criança adormecida sem acordá-la.

Na natureza encontramos lições preciosas a nos dizer que o verdadeiro poder anda de mãos dadas com o silêncio.

As estrelas e galáxias descrevem suas órbitas com estupenda velocidade pelas vias inexploradas do cosmo, mas nunca deram sinal de sua presença pelo mais leve ruído.

O oxigênio, poderoso mantenedor da vida, penetra em nossos pulmões, circula discreto pelo nosso corpo, e nem lhe notamos a presença.

A luz, a vida, o amor e o espírito, os maiores poderes do universo, atuam com a suavidade de uma aparente ausência.

Deus, que é o supremo poder, age com tamanha quietude, que a maioria dos homens nem percebe a Sua ação. É a força do amor.

Essa poderosa força, na qual todos estamos mergulhados, mantém o Universo em movimento, faz pulsar o coração dos pássaros, dos bandidos e dos homens de bem, na mais perfeita leveza e silêncio.

Até mesmo a morte chega de mansinho e, como hábil cirurgiã, rompe os laços que prendem a alma ao corpo, libertando-o do cativeiro físico.

O verdadeiro poder chega sem ruído, sem alarde e sem violência.

Agora, silencie você, para que possa ouvir a sua voz interior, que quer lhe falar para transformar a sua vida. Descubra sozinho(a) o Poder do Silêncio!